Existe, no Cristianismo atual, a noção de que sete características humanas são piores que as demais. Estes são conhecidos como os Sete Pecados Capitais, os vícios que dariam origem a todos os demais pecados. Os sete pecados capitais atualmente são: gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça e soberba. Pode parecer estranho o uso da palavra “atualmente” no parágrafo anterior, já que esses pecados soam tão inerentes à doutrina cristã que parecem tê-la acompanhado desde o início. Na verdade não foi sempre assim, visto que essa organização não existe na Bíblia.
A primeira menção aos pecados capitais se deu no século IV nos trabalhos do monge grego Evagrius Pontius, que citou não sete, mas oito vícios. Estes oito vícios, por sua vez, foram traduzidos para o latim por João Cassiano, e incluíam a “tristitia”, a “acedia” e a “vanagloria”. Esses três pecados representavam alguns conceitos que ainda existem na classificação moderna. A tristitia (tristeza) representava o desespero, a melancolia. A acedia era um fenômeno curioso, representando uma espécie de tristeza distinta em que a pessoa tornava-se apática, preguiçosa, negligenciando seus deveres e até mesmo sua fé em Deus. A vanagloria representa a ostentação, característica daquele que se gaba de suas qualidades de maneira fútil.
Foi o papa Gregório I, em 590, que formou os sete pecados como conhecemos hoje. Ele combinou a tristitia e a acedia na forma da preguiça, e fundiu a vanagloria com a soberba. Por fim, adicionou o até então inexistente pecado da inveja. Foi essa versão que encontrou seu caminho para as principais representações dos pecados capitais na arte.
Talvez a mais importante peça literária sobre os sete pecados capitais seja a Divina Comédia de Dante Alighieri. É no purgatório que eles se revelam mais claramente, onde cada nível da montanha é associado a um pecado diferente. Curiosamente, o purgatório de Dante é ordenado de uma forma específica, em que os pecados mais graves estão na base, e os menos graves no topo. São menos graves a luxuria, a gula e avareza, visto que são características que o ser humano compartilha com os animais irracionais. Já a preguiça, ira, inveja e soberba seriam os mais graves, visto que são únicos à humanidade.
Diante dessas mudanças através dis anos podemos questionar: será que, no futuro, haverá novos pecados? Ou será que essas alterações eram fruto da pouca idade da doutrina? Frente à modernização da religião cristã nas últimas décadas, podemos imaginar que algumas alterações ainda ocorrerão.
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